sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Falando sobre tolerância.

Só há tolerância onde há o respeito, o reconhecimento de que o que
o outro faz, apesar de diferente, tem o mesmo valor das coisas que
você faz.
Ser tolerante antes de tudo é respeitar o outro, é reconhecer a
legitimidade de seus atos, sentimentos e pensamentos, ainda que
diversos do seu; e se colocar em disponibilidade para a comunicação
com ele ainda que continuem a falar línguas diferentes, ou a
alimentar diferentes valores.
O reconhecimento do outro, ou o reconhecer-se diferente do outro,
não condiciona, portanto, em qualquer sentido, a uma comparação
entre você e o outro, da qual resultaria uma desigualdade, um
"maior" e um "menor".
Alguém pode ter maior renda, mais anos de escolarização formal,
melhores notas, mais isto ou menos aquilo, mas não vale mais em
razão disso, como ser humano; não podemos ter sonhos pelos
outros, nem mesmo pelos nossos filhos; não podemos sobrepor
nossos desejos ou valores aos de quem quer que seja, somos iguais a
todos no que tange a nossa dignidade como pessoa.
Entretanto, a despeito da infinita diversidade, os seres humanos
apresentam um feixe de características comuns, universalmente
encontráveis, um espectro de valores a serem permanentemente
cultivados, de direitos a serem universalmente preservados.
Claramente, o discernimento de tais características, valores e direitos
não constitui uma matéria sobre a qual um acordo parece fácil.
Pois a nossa tolerância termina quando o ato cometido pelo outro
agride, da forma que for a você mesmo, ou a outros. Por exemplo:
Existe tolerância com o estuprador, o pedófilo, o torturador, o
traficante? Com aquele que explora através da fé? Com as injustiças
e maldade humana?
Aqui começa o problema da tolerância. Até onde tenho que ser
tolerante? A tolerância envolve limites? Mas, se há limites, é porque
existe um parâmetro estabelecido, indicando até onde podemos e
devemos tolerar. E isto é tolerância? Acredito que não.
Por estes questionamentos, chego à conclusão que todos nós somos
intolerantes. E que, tolerância é algo a ser trabalhado, se assim
quisermos absorvê-la em nosso ser, e agregá-la como um degrau em
nossa jornada evolutiva terrena. Porque, tolerância verdadeira é
aquela que reconhece a legitimidade do outro diferente de nós.
Tolerância verdadeira exige a consciência de que cada qual age
conforme a sua própria natureza e voltagem. Tolerância verdadeira é
aquela que apesar de não concordar com o outro, ter o
desprendimento suficiente para compreender o motivo da diferença,
e ainda assim, não classificá-la como melhor ou pior, simplesmente porque ela não segue os parâmetros estabelecidos por nós mesmos,
ou pela opinião geral.
A tolerância verdadeira exige a compreensão de que as diferenças se
complementam, pois mesmo que você pense que os valores do outro
nada acrescentem a você, é o outro um instrumento utilizado para o
seu aprendizado de que todos são importantes e necessários, apesar
de diferentes. Ou na pior das hipóteses, é o outro o exemplo de tudo
que você não deve fazer. Oh Intolerância que não nos abandona!
O grande problema do tolerar, mas não se envolver, é que isto só é
possível na medida em que não me interesso, ou não me sinto
minimamente responsável pelo outro. Basta fechar os olhos, ou tapar
o nariz, e seguir em frente. Entretanto, quando acreditamos que
somos responsáveis por tudo e por todos, pois a nossa história faz
parte da história do outro e vice versa, as diferenças incomodam,
embora, não deveria, pois não podemos sobrepor os nossos valores a
ninguém.
O fato é que, sempre haverá o desejo de fazer valer as nossas
verdades, os nossos valores como únicos e corretos. No entanto,
nada é único e correto, tudo convém ou não a cada um. O que
funciona para uns, não dá obrigatoriedade de funcionar para outros.
E a conclusão final que chego é que será preciso ainda caminharmos
muito, pois para ser tolerante é preciso amar incondicionalmente, e
isso, ainda não aprendemos a fazer. O nosso amor, infelizmente para
existir, precisa de condições. Talvez por isso, tenhamos que ter filhos
para sentir minimamente o que é amar incondicionalmente.
Paz e Luz!
Tania Lacerda.

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