sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O Sermão da Montanha e a Umbanda




Matta e Silva afirmava e nos ensinou que o sermão da Montanha é a base da Umbanda.
Ghandi afirmava que: "se todos os livros sagrados da humanidade se perdessem, mas não O Sermão da Montanha, nada se teria perdido".
E apesar de sabermos, como cita Matta e Silva, em uma de suas obras: A doutrina de Jesus, tão antiga quanto as Eternas Verdades, jamais foi privilégio ou monopólio de uma religião ou de uma raça. Ela sempre foi relevada, em todos os tempos, de todos os modos, pois é infantil conceber-se que, somente há 2.000 anos, essa doutrina tivesse surgido, com o meigo Jesus, que teve o cuidado de afirmar não vir ab-rogar a Lei, e sim, confirmá-la... E ainda disse mais: - “a minha doutrina não é minha, mas Daquele que me enviou” (João, VII,16)”. Encontramos no Sermão da Montanha um conjunto de ensinamentos que é a base não só da Umbanda, ou de qualquer religião, mas de todo aquele que busca o caminho de volta para casa.

Este conjunto de ensinamentos se fundamentam em quatro pontos principais:
ü       O primeiro é que o objetivo de toda a vida espiritual é alcançar o reino dos céus que, significa voltar ao estado inicial de união com Deus.
ü       O segundo ponto é que para isso, o homem deve mudar de dentro para fora. Já que ele está imerso na materialidade, está tolhido por seus condicionamentos insensatos, então ele precisa se transformar. E deve agir, começando de dentro para fora.
ü       O terceiro ponto é que todas as ações do homem na Terra são regidas por uma grande lei conhecida como a lei de causa e efeito.
ü       E o quarto ponto, finalmente, é que existe um grande princípio de coesão no universo. Esse princípio de coesão, de união, é conhecido por nós como Amor. Esse princípio faz com que todas as barreiras possam ser transpostas, todos os impedimentos sejam dissolvidos para a reunião, para a união final do homem com Deus.

Esses quatro princípios são apresentados ao longo do Sermão da Montanha, como As Bem-Aventuranças. Que são ideais ou virtudes que devem ser alcançadas por todos que decidem seguir a senda que leva à iluminação plena. Representam a essência espiritual dos ensinamentos. E todas elas começam com “bem-aventurados”.
“Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o reino dos céus”.
O pobre em espírito é aquele que tem total ausência de egoísmo e orgulho, que foram substituídos pela humildade e modéstia. Então, para estes, verdadeiramente pobres em espírito, não existe mais a consciência de um eu separado. E, sendo assim, não existindo mais a consciência de um eu separado, realizou-se a união e foi alcançada a bem-aventurança.
Ensinamento este transmitido por nossos amados caboclos e pretos velhos a cada sessão em nossos terreiros, a cada consulta, mas principalmente a nós, seus instrumentos de trabalho, através de nossa mediunidade, onde é solicitado a todo o momento que o egoísmo, a vaidade e o orgulho sejam trabalhados dentro de nós, a fim de que possam ser substituídos pela humildade, amor e caridade.
“Bem-aventurados os mansos porque herdarão a terra”.
Quem seriam os mansos? Aqueles que se escondem atrás da pseudo resignação, onde a leitura é “Deus sabe o que faz”. Não creio nisso! Até porque toda a nossa vida é responsabilidade nossa, somos os únicos responsáveis por nossas escolhas, pensamentos, sentimentos e ações. Logo, não é Deus quem faz, mas nós mesmos. Colhemos aquilo que plantamos. Se aqui estamos, foi pelo nosso Livre Arbítrio, pela escolha da segunda via de evolução. E embora para alguns estudiosos e “Mestres” terrenos, mansos são aqueles iluminados que entendem que deve conformar-se à vontade de Deus, prefiro acreditar que a mensagem aqui é de que devemos atingir a sabedoria de que o nosso Karma é fruto de nosso plantio. E esta sabedoria é alcançada a partir do momento que executamos a primeira Lei a ser seguida, para os que buscam o caminho de volta: “Conhece a ti mesmo!”.

Só aqueles que conseguem isto, tornam-se mansos, pois conseguiram conhecer-se tão profundamente, alcançando um equilíbrio e controle sobre si mesmo, não permitindo que nada exterior abale seu estado de espírito. Nada externo consegue desestruturá-lo, pois sabem que todo obstáculo, toda pedra no caminho, estão ali pela Lei da Atração e a Lei de Causa e Efeito. Atraímos para nós aquilo que precisamos para a nossa evolução espiritual. Só os mansos, compreendem que o Karma, não é um castigo, mas a oportunidade de aprendizado. E só estes podem “herdar a Terra”, porque só esses são os senhores e nunca escravos das “coisas da matéria”.

“Bem-aventurados os aflitos porque serão consolados”
Talvez esteja aqui, uma das maiores lições para os umbandistas, freqüentadores, e principalmente, aqueles que acham que Umbanda é uma religião de “solução de casos”.
A aflição aqui, não se trata de uma aflição pela perda dos bens, da saúde ou de um ser amado. Aqueles que se afligem pelas coisas do mundo, expressam seu apego pelo que foi perdido. E geralmente expressam esse apego com ressentimentos e mágoas, o que não é atitude espiritual. Verdadeiramente, a aflição que traz o consolo da bem-aventurança é a aflição pela ausência da graça divina.
As pessoas choram pela perda das coisas desse mundo, entretanto, devemos nos afligir pela perda do estado original de união com Deus. Aqui sim, perdemos aquilo que tínhamos de mais precioso: o deleite constante da Presença de Deus. A criação é, na verdade, uma saída do seio de Deus. Portanto, quando a alma, desperta para a realidade última, anseia voltar para o seio de Deus, para a união com o Pai Celestial. Esta é a aflição que faz com que a pessoa seja consolada com a bem-aventurança.

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão saciados”.
No sentido espiritual, o que Jesus se referia como justiça era o conhecimento divino. Os que têm fome e sede do conhecimento divino sabem que devem buscar esse conhecimento avidamente, bater insistentemente à porta e pedir a graça de todo o coração.
São esses indivíduos que são referidos, mais adiante na Bíblia, como sendo aqueles que tomam o reino do céu pela força. Esses ativistas serão obviamente, saciados. Quando examinamos mais atentamente vemos que com o conhecimento divino, percebemos a divina justiça. A suprema justiça estipula que a graça seja concedida, na medida em que as pessoas se esforçam para obtê-la. E ela só pode ser obtida pela mudança interior; sempre! É isso que foi expresso como fome e sede de justiça. Então, quanto mais a pessoa se engaja na busca do conhecimento divino, quanto mais se esforça, quanto mais se engaja, maiores as chances de resultados favoráveis. No início da busca interior, a graça vem como inspiração e força para continuar o processo de mudança interior. Quando essa ocorre, chega finalmente o momento em que a graça se manifesta como a presença de Deus.

“Bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia”.
Apresenta-se aqui, mais uma vez, a lei de causa e efeito. Quem é misericordioso alcança a misericórdia, ou seja, colherás o que plantares.
Entretanto, percebo aqui, uma outra mensagem embutida neste ensinamento. Refiro-me à questão da “caridade”.
A Umbanda tem como mola mestra fazer a caridade, mas me pergunto por várias vezes caridade pra quem? Não seria esta ação um processo desenvolvido em mão dupla? Porque doar-se pela evolução do outro, é doar-se para a sua própria evolução.
O uso do Bem e do Mal é um processo reflexivo. É como se diz, atirar uma bola na parede. Logo, ser misericordioso, fazer caridade, fazer o bem é algo que estamos fazendo para nós mesmos. E acredito que aquele que faz por consciência de que está fazendo não pelo outro, ou não só pelo outro, mas por si mesmo, é bem aventurado. Porque ser bom, caridoso, misericordioso, não dá direito a nada, é um dever de todos os seres do planeta.
Por isso, não vamos aos nossos terreiros para fazer caridade pra ninguém! Não vamos aos nossos terreiros cumprir a nossa missão de médium! Vamos aos nossos terreiros, trabalhar na Umbanda, para a nossa própria evolução. Porém, como tudo conectado está; um ato, um sentimento, uma ação de Amor é irradiado não só a nós, nem ao outro, mas a tudo e a todos.
“Bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus”.
A pureza referida não é somente uma pureza moral. O sentido espiritual de pureza de coração é a completa libertação do desejo pessoal. Quando há expectativa de retorno, em que a pessoa faz alguma coisa para obter algo, existe impureza de coração. Trabalhar para obter uma vantagem é uma atitude natural em nosso mundo terreno, mas não uma atitude espiritual. No texto desta bem-aventurança está implícito, também, o estado de união com Deus. Isto porque somente aqueles que se desapegaram inteiramente do eu, conseguem alcançar esta atitude de verdadeira pureza de coração.
Dentro da Umbanda essa “bem aventurança” nos é doada, nos é ensinada pelos espíritos que se apresentam sob a roupagem fluídica de crianças. Cabe a cada um percebê-la, sentí-la e compreendê-la.
“Bem-aventurados os que promovem a paz porque serão chamados filhos de Deus”.
A paz deve ser promovida tanto no interior como no exterior. Primeiramente, a paz aparece como decorrência da transformação do indivíduo, aguçando sua mente e despertando sua intuição. Com isso ele passa a entender as leis do universo, as leis da manifestação que regem a vida do homem. O resultado deste entendimento é compreensão de que a vida é o que fizemos para ela seja como é e não como gostaríamos que ela fosse. Com essa compreensão vem uma profunda paz. Uma vez alcançada essa paz interior, ela naturalmente se reflete na vida exterior do indivíduo, que não mais entretém motivações, pensamentos, palavras e, principalmente, ações egoístas ou cruéis. Ele, então, está interiormente em paz e transmite esta paz àqueles que o cercam. Portanto, aqueles que estabelecem a harmonia interior e transferem essa harmonia para o seu exterior, estão agindo como Deus espera de seus filhos. Conseqüentemente, eles serão chamados filhos de Deus. Essa é sem dúvida uma grande realização porque na nossa tradição, quem é chamado de Filho de Deus? Jesus, o Cristo é o filho de Deus. Então, aqueles que são os pacíficos, os que promovem a paz, estão expressando Cristo em sua vida diária, por isso são chamados de Filhos de Deus.
“Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça porque deles é o reino dos céus”.
Quem busca a verdade vive de forma diferente das massas. Todos nós percebemos que existem algumas pessoas que são, vamos dizer, diferentes, e quando as observamos com atenção, verificamos que elas têm um comportamento, uma ética, e certos ideais de vida que são bastante diferentes das massas. Por isso mesmo, as massas têm  certa desconfiança daqueles que são diferentes. Há sempre uma pressão das massas para o conformismo. Aqueles que são diferentes são tratados com desconfiança e, muitas vezes, são perseguidos. Foi isso que aconteceu com Jesus e com quase todas as grandes almas que procuram divulgar mensagens transformadoras. Esses reformadores são invariavelmente considerados subversivos pelo regime vigente e, quase sempre, são perseguidos.
Dentro da Umbanda essa bem aventurança reflete no próprio dia a dia do médium, pois ele é alguém, que se não é, pelo menos deveria ser, um guerreiro contra qualquer desequilíbrio. A sua função, a sua missão é retirar a Luz das trevas e iluminar a tudo e a todos. Acontece, porém, que os habitantes das trevas, o vão perseguir, tentando de várias maneiras fazer com que ele desvirtue de seu caminho e de sua missão. Cabe a ele, no entanto, agir com coragem, perseverança e destemor, consciente, de que a recompensa final, no plano físico, é coroa cravada de espinhos, pois os frutos do plano físico são amargos, mas doces ao Espírito.

Paz e Luz!
Tania Lacerda.

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